badge
Lilypie 1st Birthday Ticker

sábado, 1 de dezembro de 2007

Os novos consultórios (23 semanas - T2)


No fio de novelo desenrolado a cada conversa de consultório tricota-se retratos sociológicos peculiares. A cada suspiro que se solta na expressão carrancuda dos seus pacientes forma-se o epicentro de uma onde de choque que percorre rapidamente o pensamento das pessoas que ocupam a sala. Ao puxar de um enigmático “é uma vida…” monta-se uma teia de expressões fatalistas tipo “coitadinho…é o pais que temos…Deus nos ajude…” que são usadas para completar espaço na cadeia de conversas que percorrem toda a sala.

Fervilho de inquietude a cada visita que tenho de fazer a centros de saúde, consultas externas e outras salas de espera de qualquer hospital. Pior que estar doente é ouvir falar de doenças em sítios enfermos aonde temos de nos deslocar nessas situações. Procuro evitar o olhar que acenda o rastilho de mais um queixume, mergulho no ecrã do telemóvel que serve de prancha de salvação ás correntes de desabafos estridentes, folheio revistas cor de rosa para abafar conversas fatalistas que ecoam por todos os cantos onde nos encostamos. Somos engodo fácil para profetas do desalento. Mas será que as pessoas ainda não perceberam que para as ajudarem têm de se deixar ajudar. Prefiro ser autista nestes viveiros de fatalismo que espelham o sentimento infeliz de dó tão característico do povo Lusitano. Já é tempo de rasgar a folha do dicionário onde se escreve "pena".

Mas nesta viagem que nos leva à mais desejada das bebés descobri um oásis no meio desta realidade. Existem ilhas perfeitas que nos abrigam de pessimismos em cada encontro com alguém de bata branca. Os (também) consultórios de Obstetras e Ginecologistas são pródigos em momentos de ansiedade e relaxamento (lembram-se de mais alguma coisa que se pareça com estes estados? Seus marotos…). A realidade neste contexto é transfigurada. Os suspiros são substituídos por olhares indiscretos que procuram a maior barriga, os queixumes são comutados por relatos orgulhosos de novas sensações, as conversas fatalistas convertem-se em manuais de puericultura óptimos para pais inexperientes. E neste espaço de esperança as futuras mamas saem mais seguras do que quando entram e carregam ares felizes de uma nova vida que as espera.

Afinal as horas infindáveis de espera podem também nos trazer alguma mais valia, nem que seja o texto de mais um post para mostrar à Beatriz.

Sem comentários: